A endometriose é uma doença crônica, inflamatória e dependente do hormônio estrogênio, na qual um tecido semelhante ao revestimento do útero cresce em outros lugares do corpo. Isso pode causar uma reação inflamatória crônica, que pode levar à formação de tecido cicatricial (aderências ou fibrose) dentro ou fora do útero. É uma das doenças ginecológicas mais comuns, afetando cerca de 190 milhões de mulheres e meninas em idade reprodutiva, de acordo com a OMS. Os principais sintomas incluem dor, fadiga e infertilidade.
A causa da endometriose ainda não está definida, mas existem algumas teorias:
- Teoria da menstruação retrógrada: cerca de 90% das mulheres têm menstruação retrograda, ou seja, parte do fluxo menstrual retorna pelas trompas, ao invés de ser eliminado. Isso favorece o recrutamento de células imunológicas e disfunção, facilitando o desenvolvimento de lesões. Células do tecido endometrial podem se aderir às superfícies e desenvolver o tecido endometrial extrauterino;
- Teoria das células-tronco extrauterinas: células são deslocadas da região do endométrio e vão para outras áreas. A migração dessas células pode acontecer por vias diferentes como a menstruação retrógrada, via rede linfática e migração celular anormal durante o desenvolvimento embrionário (organogênese). Além disso, a medula óssea também pode contribuir para a liberação dessas células que irão proliferar em outras regiões. As células-tronco da endometriose são disfuncionais, não funcionam adequadamente e levam a alterações genéticas e epigenéticas e pode levar a sua autorrenovação;
- Teoria da metaplasia celômica: o epitélio celômico, o qual é um tecido que reveste o ovário, sofre uma mudança de característica inadequada, para um tecido endometrial;
- Teoria genética: fatores imunológicos, inflamatórios, hormonais e estresse oxidativo que vão “acendem” essa genética.
Essas teorias não explicam todos os casos de endometriose, como a endometriose que ocorre em órgãos como os pulmões (possivelmente devido à disseminação pelo sistema sanguíneo ou linfático). Nos locais com focos de endometriose, acontece a formação de novos vasos sanguíneos, e inflamação, o que leva ao desenvolvimento de lesões endometrióticas, resultando no aparecimento das manifestações clínicas da doença. Quanto mais inflamação, há maior proliferação do tecido endometrial.
A maioria das lesões de endometriose é encontrada na cavidade pélvica:
- Nos ovários;
- Nas trompas de falópio, que transportam óvulos dos ovários para o útero;
- Na parte de trás do útero;
- Nos nervos sacrais, que são os ligamentos que prendem o útero às paredes pelve;
- Nos intestinos ou na bexiga.
Em alguns casos, a endometriose pode crescer fora da cavidade pélvica, como nos pulmões ou em outras partes do corpo.
Quais são os fatores de risco para endometriose?
Pesquisas mostram que certos fatores podem aumentar ou diminuir o risco de desenvolvimento da endometriose.
Vida Fetal:
- Malformação uterina;
- Nascimento prematuro;
- Baixo peso ao nascer;
- Exposição a medicação dietilestilbestrol (usado no tratamento de câncer).
Infância e adolescência:
- Menarca precoce (primeira menstruação antes dos 11 anos);
- Baixo índice de massa corporal (IMC);
- Abuso físico;
- Abuso sexual.
Fim da adolescência e vida adulta:
- Ciclo menstrual curto (inferior a 27 dias);
- Fluxo menstrual excessivo (duração maior que 7 dias);
- Nuliparidade (mulher que nunca teve filhos ou engravidaram, mas perderam);
- Baixa relação cintura-quadril;
- Têm mãe, irmã ou filha com endometriose.
Quais são os principais sintomas da endometriose?
Os sintomas mais comuns são:
- Cólica menstrual intensa e debilitante;
- Ciclos menstruais intensos;
- Sangramento pré-menstrual ou fora do período menstrual;
- Dor durante a relação sexual;
- Dor pélvica e abdominal;
- Distensão abdominal;
- Dor, queimação, ardência durante ou após urinar;
- Mudança no hábito intestinal;
- Dificuldade para engravidar;
- Fadiga e falta de energia.
Além disso, mulheres com endometriose podem ter a síndrome do intestino irritável ou sintomas digestivos e gastrointestinais semelhantes.
Para algumas mulheres, a dor associada à endometriose fica mais branda após a menopausa.
Dor relacionada à endometriose
Os pesquisadores sabem que a dor é o principal sintoma da endometriose, embora as causas exatas ainda não sejam totalmente compreendidas. No entanto, é reconhecido que as lesões de endometriose geram inflamação, e essa inflamação pode ser considerada uma das responsáveis pela dor.
A gravidade da dor não corresponde ao número, localização ou ao tamanho das lesões da endometriose. Algumas mulheres com apenas algumas lesões pequenas sentem dor intensa; outras mulheres podem ter lesões muito grandes, mas sentirem pouca dor.
As evidências atuais sugerem várias explicações possíveis para a dor associada à endometriose, incluindo:
- As lesões de endometriose respondem aos hormônios de forma semelhante ao revestimento do útero. Esses tecidos podem sangrar ou ter inflamação todos os meses, como um período menstrual regular. No entanto, o sangue e o tecido eliminados pelas lesões de endometriose permanecem no corpo, o que pode causar dor;
- Em alguns casos, a inflamação e as substâncias químicas liberadas pelas áreas de endometriose podem fazer com que os órgãos pélvicos se unam, formando cicatrizes. Isso faz com que o útero, os ovários, as trompas de falópio, a bexiga e o reto fiquem como se fossem um único grande órgão, podendo causar dor intensa. O tecido cicatricial formado pode limitar o movimento normal dos órgãos pélvicos e causar desconforto, especialmente durante a menstruação, a relação sexual ou até mesmo ao urinar, ou evacuar;
- Hormônios e produtos químicos liberados pelo tecido da endometriose podem irritar o tecido próximo e fazer com que ele libere outros produtos químicos que causam dor;
- Com o tempo, algumas áreas de endometriose podem formar nódulos ou inchaços na superfície dos órgãos pélvicos, ou se tornar cistos nos ovários;
- Algumas lesões de endometriose têm nervos que se conectam diretamente ao sistema nervoso central. Esses nervos podem ficar mais sensíveis às substâncias que causam dor, liberadas nas lesões e áreas próximas. Com o tempo, eles podem ser ativados mais facilmente por essas substâncias do que os nervos normais.
A dor da endometriose pode ser incapacitante, interferindo nas atividades do dia a dia. Entender como a endometriose está relacionada à dor é uma área de pesquisa muito ativa porque pode permitir tratamentos mais eficazes para esse tipo de dor.
Como a endometriose é diagnosticada?
O diagnóstico da endometriose pode ser feito por meio de uma combinação de exames clínicos e de imagem. Alguns dos principais exames incluem:
- Ultrassom transvaginal: esse é o exame de imagem mais comum e pode detectar endometriomas (cistos nos ovários) e lesões grandes de endometriose, mas pode não identificar as lesões menores ou superficiais;
- Ressonância magnética (RM): é um exame de imagem mais detalhado que pode ajudar a identificar a extensão da endometriose, especialmente em locais mais difíceis de visualizar, como a parede abdominal ou o intestino;
- Laparoscopia: considerado o padrão-ouro para o diagnóstico definitivo. É um procedimento cirúrgico minimamente invasivo, no qual uma câmera é inserida no abdômen para visualizar diretamente as lesões de endometriose. Durante o procedimento, o médico também pode realizar biópsias ou remover tecidos endometrióticos;
- Exames de sangue (CA-125): o marcador CA-125 pode estar elevado em mulheres com endometriose, mas ele não é específico para a doença. Assim, esse exame não é usado para diagnóstico, mas pode ajudar a avaliar a gravidade em alguns casos.
Quais são os tratamentos para endometriose?
Atualmente não há cura para a endometriose, mas há opções de tratamento para melhorar a qualidade de vida da mulher, reduzir as dores e a inflamação e controlar a doença.
Os tratamentos podem incluir terapia hormonal, medicamentos para dor, cirurgia, fisioterapia pélvica e, principalmente, o tratamento nutricional, essencial para redução da inflamação e evolução da doença. Contudo, nem todos os tratamentos funcionam bem para todas as mulheres com endometriose. Além disso, os sintomas podem retornar após o tratamento ser interrompido ou, em caso de cirurgia, anos após o procedimento.
Tratamento Nutricional
O tratamento nutricional tem grande poder na redução dos sintomas e da inflamação, além de proporcionar o aumento do bem-estar e melhora na qualidade de vida da mulher com endometriose. É importante lembrar que, por ser uma doença crônica, o tratamento da endometriose precisa ser a longo prazo e requer mudanças no estilo de vida.
O consumo de frutas e vegetais pode ajudar a reduzir o risco de desenvolver a endometriose, pois influencia genes específicos envolvidos na patogênese da doença. Aves, peixes, ovos e mariscos não foram relacionados com o desenvolvimento da doença, já a carne vermelha, um estudo mostrou que o consumo de 2 ou mais porções/dia foi associado a um risco 56% maior de desenvolver endometriose, em comparação com o consumo apenas 1x na semana.
As gorduras insaturadas presentes em alimentos como oleaginosas, azeite, sementes, salmão e abacate possuem propriedades antioxidantes e anti-inflamatórias, ajudando na prevenção e redução da proliferação de lesões da endometriose. Além disso, o consumo de laticínios baixos em gordura, com três ou mais porções diárias, foi associado a uma redução de 18% no risco de endometriose em comparação com a ingestão de apenas duas porções. Níveis elevados de vitamina D no sangue diminuíram o risco em 24%, enquanto o consumo de magnésio também mostrou uma redução significativa no risco da doença.
Carboidratos refinados com alto índice glicêmico levam a um pico rápido de insulina e IGF-1. Evitar o consumo desses carboidratos de forma isolada, sempre associar às fibras, proteínas, gorduras, para reduzir o IG da refeição. O excesso desses carboidratos aumenta estradiol e está relacionado a maior proliferação de células endometriais.
Estudos clínicos ainda não comprovaram o efeito da soja e dos fitoestrógenos na endometriose, sendo necessário avaliar caso a caso. Existem duas hipóteses a serem consideradas: a primeira sugere que, devido aos seus efeitos estrogênicos, os fitoestrógenos poderiam estar associados ao desenvolvimento da endometriose e outras doenças dependentes de estrogênio; a segunda, baseada em modelos animais, indica que as isoflavonas presentes na soja reduzem a expressão do receptor de estrogênio alfa, o que poderia diminuir as lesões de endometriose pela menor disponibilidade de estrogênio.
É importante estar atento ao consumo de café e cafeína, que, embora a sua relação com a endometriose não tenha sido comprovada, pode aumentar a disponibilidade de estrogênio e estronas, ao álcool, que aumenta disponibilidade de estrogênio no sangue, e às gorduras saturadas e trans, pois estas aumentam os níveis de estradiol e promovem inflamação, sendo fatores que podem influenciar negativamente doenças dependentes de estrogênio.
O acompanhamento nutricional individualizado no tratamento da endometriose, é um dos pilares para promover alívio dos sintomas e trazer de volta a qualidade de vida da mulher. Além de evitar tentativas e erros, exclusão completa ou parcial de alimentos por longo período de tempo que, por muitas vezes, não trazem alívio duradouro.
Agora que você chegou até aqui, quero compartilhar contigo uma informação que muitos ainda não sabem: eu tenho endometriose. Eu entendo a sua realidade, os seus sintomas e sei o quanto é desafiador viver assim. Hoje vivo com sintomas que estão controlados e sei perceber os sinais que o meu corpo dá, também sei o que vai acontecer se eu não der para o meu corpo os nutrientes que ele precisa.
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